O Abrandamento das Rendas em Portugal: Ajuste Natural ou Mudança Estrutural do Mercado
- Redação Mudei e Agora
- há 3 dias
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Após vários anos de forte pressão sobre o mercado de arrendamento, os dados mais recentes indicam que o crescimento das rendas em Portugal começou a desacelerar no final de 2025. De acordo com dados divulgados pela imprensa especializada, a variação anual das rendas situou-se em torno de 3%–4%, um valor significativamente inferior ao observado em períodos anteriores, quando o crescimento ultrapassava frequentemente os 7% ou 8% ao ano. Este abrandamento das rendas em Portugal levanta uma questão central: trata-se apenas de um ajuste conjuntural ou do início de uma nova fase estrutural do mercado?
Durante a última década, o mercado de arrendamento português foi caracterizado por um desequilíbrio crónico entre oferta e procura. A combinação de crescimento do turismo, investimento estrangeiro, migração qualificada e baixa produção de habitação empurrou as rendas para máximos históricos, sobretudo em Lisboa, Porto e principais zonas costeiras. No entanto, vários factores começaram recentemente a alterar este cenário.
Em primeiro lugar, verifica-se uma maior sensibilidade da procura aos preços. O aumento do custo de vida, aliado a rendimentos que não acompanharam o ritmo da valorização imobiliária, levou muitas famílias a reduzir expectativas, optar por tipologias mais pequenas ou procurar zonas periféricas. Este comportamento introduz um travão natural ao crescimento das rendas, pois os proprietários enfrentam maior dificuldade em absorver aumentos sucessivos sem perda de ocupação.
Em segundo lugar, surgem sinais de reforço gradual da oferta, ainda que insuficiente. Programas públicos de incentivo à colocação de imóveis no mercado de arrendamento, benefícios fiscais para rendas moderadas e algum aumento do stock reabilitado começam a produzir efeitos localizados. Embora não resolvam o problema estrutural, ajudam a reduzir a pressão imediata sobre os preços.
Outro factor relevante é a mudança no perfil do investimento. Parte dos investidores, confrontados com maior regulação, fiscalidade mais exigente no alojamento local e maior risco político, passou a privilegiar estratégias de longo prazo e maior estabilidade, aceitando rendas menos agressivas em troca de menor rotatividade e risco de incumprimento.
É importante notar que este abrandamento não significa queda generalizada das rendas. Em zonas prime, centros urbanos consolidados e mercados com forte procura internacional, os valores mantêm-se elevados. O que se observa é uma normalização do ritmo de crescimento, mais alinhada com a evolução dos rendimentos das famílias e com padrões europeus.
Para os inquilinos, esta tendência pode representar uma janela de oportunidade para renegociar contratos ou procurar alternativas com melhor relação preço-qualidade. Para os senhorios, exige uma abordagem mais profissional: definição de preços realistas, foco na qualidade do imóvel e valorização da estabilidade contratual.
Em termos macroeconómicos, o abrandamento das rendas é um sinal saudável. Mercados imobiliários sustentáveis não dependem de aumentos contínuos e rápidos, mas de equilíbrio entre acessibilidade, retorno e estabilidade social. Se esta tendência se consolidar em 2026, Portugal poderá entrar numa fase mais madura do ciclo de arrendamento.
Fonte:The Portugal News / Idealista — Dados sobre evolução das rendas em Portugal (Dezembro 2025)



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